Por quê?
|
|
|||
ASSASSINATO
EM SÃO PAULO
A
última sessão de cinema
Helvécio Herkenhoff Lima
A violência saltou do filme Clube da Luta, na tela, para a platéia do cinema do MorumbiShopping. O que levou o estudante de medicina a disparar contra desconhecidos? São Paulo, noite de 3 de novembro de 1999 - Mateus da Costa Meira entrou no banheiro com a arma. Queria testá-la. Disparou contra o espelho. O barulho passou quase despercebido pela platéia. Saiu e parou na escada, ao lado da tela. Nas mãos, a submetralhadora de cerca de 30 centímetros de comprimento. Ficou quase 20 segundos parado e desceu vagarosamente os degraus, entrando no corredor lateral da sala como se procurasse um lugar para sentar. Parou na quinta fila de cadeiras. Levantou a arma e apertou o gatilho. Ninguém compreendeu o que estava ocorrendo. (O Estado de São Paulo, 5 de novembro de 1999) Assim começou o primeiro caso de assassinato imotivado em local público no Brasil. Fenômeno freqüente nos Estados Unidos, onde tem envolvido cada vez mais crianças e adolescentes no papel de serial killers, a ocorrência chocou São Paulo e monopolizou o noticiário dos jornais durante vários dias, além de ser o assunto de capa das grandes revistas semanais. O assassino tinha na época 24 anos, é baiano de Salvador e filho de um casal de alta classe média. Morava sozinho em São Paulo, onde fazia o último ano de Medicina na Universidade Paulista. Seus pais, de Salvador, pagavam o aluguel, a faculdade e ainda mandavam R$ 800,00 mensalmente para o filho. Foi economizando esse dinheiro e ainda o que ganhava com a pirataria de CD-Roms que Mateus levantou o suficiente para comprar uma pistola automática e, logo depois, uma metralhadora. O fornecedor das armas era o mesmo que lhe vendia a cocaína na qual se viciara há dois meses. Mateus tinha distúrbios mentais, ouvia vozes e sentia-se constantemente perseguido e vigiado. Há anos acalentava o impulso de matar. Em seu depoimento, declarou-se confuso, sem saber direito o que fizera, mas reiterando que era preciso "fazer aquilo". Tudo se passou em poucos minutos. Era a noite de quarta-feira, 3 de novembro, e o cinema 5 do MorumbiShopping passava Clube da Luta, um filme violento cujo protagonista é um rapaz esquizofrênico, assim como o próprio Mateus. Os tiros começaram logo depois das 22h30, horário de verão. Tudo demorou apenas três minutos. O resultado foram três mortos e cinco feridos, e só não foram mais devido à inexperiência do atirador, que manteve a metralhadora levantada demais, segundo algumas testemunhas. As vítimas foram Luísa Jatobá, publicitária de 44 anos, pessoa "doce e afável", segundo os amigos; Fabiana Lobão de Freitas, 25 anos, formada em Letras e Turismo, funcionária de um museu; e o economista Júlio Zemattis, que assistia o filme em companhia da ex-namorada. Esta, com uma bala alojada na base da coluna, assim como o noivo de Fabiana, com o calcanhar estilhaçado, estão fora de perigo, da mesma forma que Antônio José, com uma bala alojada no testículo. Mas não esquecerão tão cedo o que ocorreu. Este é mapa do evento, calculado para as 22h30 (Horário de Verão) do dia 3.11.99:
O Ascendente é Gêmeos e seu regente Mercúrio encontra-se em exílio em Sagitário, na casa 6, em conjunção aberta com Plutão, na mesma casa. Mercúrio (o jovem) em Sagitário, signo do arqueiro, pode representar o rapaz Mateus com sua submetralhadora (correspondente moderna do arco e flecha). O vínculo de Mercúrio, planeta mental, com o eixo 6-12, dos problemas de saúde, assim como a debilidade deste planeta (exilado em Sagitário e aproximando-se de Plutão, que costuma ser associado às idéias fixas), podem dar uma pista para a compreensão do assassino como uma pessoa mentalmente perturbada e dominado por motivações irracionais ou fora de controle. Para corroborar, Vênus, que é regente da 12, ocupa a casa 3 da mentalidade. Vênus está em queda (Virgem), em conjunção com a Lua (emoção) e em quadratura com o Ascendente, ponto do mapa associado aos inícios, ao ponto de partida. A Lua, envolvida com Vênus, rege a casa 2 (valores e também sentimentos). Esses dois planetas femininos na casa do intelecto e da linguagem articulada parecem mostrar como os processos mentais de Mateus estavam turvados por emoções fora do alcance da consciência (Vênus rege a 12) e fortemente reprimidas (Lua-Vênus estão em Virgem, signo que filtra a livre manifestação da espontaneidade, e Virgem está interceptado na casa 3). Um recado desesperado, mas para quem?
© 1998-2002 Terra do Juremá Comunicação Ltda. |