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MEMÓRIA DA ASTROLOGIA BRASILEIRA

Telma Barboza:
uma hipótese para a compreensão
da epilepsia

Fernando Fernandes

 

Neurologista e homeopata, a médica Telma Barboza, falecida em 1997, reuniu evidências de que a epilepsia é uma disfunção mais comum em pacientes com aspectos tensos de Netuno envolvendo fatores pessoais da carta astrológica.

Com o falecimento de Telma Maria Barboza, em 1997, a Astrologia médica brasileira perdeu uma ativa incentivadora, se bem que quase desconhecida fora do fechado circuito em que atuava. Nascida em 1947, esta carioca do subúrbio teve de lutar muito até formar-se em medicina. Especializando-se em neurologia e medicina do trabalho, dividiu-se, até meados dos anos oitenta, entre o ambulatório de uma grande empresa no centro do Rio e uma clínica em Campo Grande, onde acompanhava principalmente casos de epilepsia. Negra, enraizada no coração do subúrbio e discretamente vinculada ao universo cultural afrobrasileiro, Telma não tinha nenhuma dificuldade em estabelecer uma relação de empatia com a clientela mais carente. Na prática, não agia apenas como médica, assumindo também informalmente os papéis de assistente social e de psicóloga sempre disposta a dar ao paciente uma atenção cada vez menos comum no impessoal ambiente dos serviços de saúde.

Quando Plutão em trânsito ativou a oposição de seu Sol em Touro na 8 a Júpiter em Escorpião na 2, a vida e a carreira profissional de Telma passaram por transformações radicais que acabaram por aproximá-la de saberes cada vez mais distantes da formação acadêmica convencional. A primeira grande sacudidela veio sob a forma de um acidente na auto-estrada da Barra da Tijuca. Telma escapou ilesa, mas viu o marido ser atropelado e morto quando o carro da família enguiçou no viaduto e foi abalroado por um ônibus em alta velocidade. A necessidade de superar a perda levou-a a explorar novas áreas de interesse. Telma voltou a estudar e, interessada em encontrar alternativas para o uso de drogas químicas no tratamento de distúrbios neurológicos, decidiu fazer uma especialização em homeopatia. Na época, o Instituto Hahnemanniano era um caldeirão em ebulição, onde médicos de mentalidade mais arejada trocavam informações sobre as possibilidades terapêuticas de outras abordagens que, a exemplo da homeopatia, também tinham por base os princípios da correspondência, da similitude, da visão do paciente como totalidade psicossomática e da prevalência do quadro energético sobre os sintomas físicos.

Aos poucos, Telma tomou contato com as pesquisas que aproximavam a homeopatia da Astrologia. Logo estava reunindo colegas e formando um grupo de estudos que, pouco tempo depois, iria procurar um dos cursos de Astrologia da cidade e solicitar a montagem de uma turma exclusivamente para homeopatas. Dos mais de quinze médicos que Telma mobilizou, vários aprofundaram o envolvimento com a Astrologia, passando a incorporá-la, daí em diante, como método auxiliar de diagnóstico.

Disposta a aplicar a nova perspectiva teórica e as novas técnicas em sua especialidade (Urano na casa 9 regendo a 6, em oposição à Lua na casa 3), Telma passou a levantar os mapas dos portadores de epilepsia, em busca de alguma chave para a identificação de fatores comuns. A primeira hipótese de trabalho apontava para Urano como significador fundamental de distúrbios neurológicos, mas a pesquisa revelou, cada vez com maior clareza, que a epilepsia era uma disfunção de natureza netuniana, estando relacionada, na maioria dos casos observados, a um envolvimento de Netuno com o Sol, a Lua e os regentes das casas 6 e 12. Trânsitos e progressões de Netuno sobre planetas natais ou destes sobre Netuno apareciam com freqüência como disparadores da primeira manifestação de crise e de suas posteriores repetições.

Telma Maria Barboza - 07.05.1947, 15h, Rio de Janeiro - 22s54, 43w13

Era o ano de 1989. Pouca gente contava então com computadores pessoais, e os recursos dos softwares de Astrologia deixavam ainda muito a desejar. Pouco afeita à informática, Telma levantava os mapas à mão ou valia-se da colaboração de astrólogos amigos. Chegou a desenvolver uma metodologia de pesquisa que previa o estudo de pelo menos cem portadores de epilepsia, com acompanhamento das datas de ocorrência de crises por um período mínimo de dois anos, cujos mapas seriam confrontados com grupo de não epilépticos de igual dimensão. O estilo de trabalho de Telma era lento, seguro e rigoroso, não dando lugar para conclusões prematuras ou manifestações públicas precipitadas (Sol e Mercúrio em Touro, Mercúrio em quadratura com Saturno). Seu objetivo era reunir uma quantidade de evidências capaz de embasar a apresentação dos resultados da pesquisa em um congresso de neurologia. Era uma profissional discreta, sem qualquer dose de vedetismo, e temia que a antecipação de conclusões inconsistentes aumentasse ainda mais as resistências da área médica à utilização da Astrologia como ferramenta de diagnóstico.

A descoberta de que era portadora de um câncer de difícil tratamento obrigou-a a desviar-se para assuntos mais urgentes. Entre uma fase e outra da terapia, viajou à França, estudou outras formas de terapia alternativa e associou-se à astróloga e instrutora de yoga Tânia Chaves para a abertura de um núcleo de tratamento integrado no Largo do Machado. O agravamento do estado de saúde impediu-a de prosseguir. Em novembro de 1997, Telma passou para o outro lado. Deixou um trabalho de semeadura, que ainda rende frutos através de muitos colegas médicos que passaram a interessar-se pela Astrologia e a estudá-la. Suas anotações de pesquisa estão perdidas, mas não a proposta de um estudo sistemático da epilepsia como disfunção netuniana. Tão netuniana quanto ela própria, que tinha este planeta na casa 1, junto ao Ascendente, e foi, a despeito da controlada natureza taurina, uma visionária.

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