Depois de levar a neta a uma festa infantil no Shopping Rio Sul, Lucia tentava voltar para casa quando o táxi em que viajava foi soterrado por um deslizamento de terra e galhos de árvores na Av. Carlos Peixoto, rota alternativa entre Botafogo e Copacabana. Nenhum dos ocupantes do carro sobreviveu.
Durante a cerimônia fúnebre, na tarde do dia 10, o clima de comoção tomou conta do Cemitério São João Batista. Na capela superlotada não cabia mais ninguém. Do lado de fora, cinegrafistas de todas as emissoras de televisão montavam seus equipamentos.
Lucia era avessa aos holofotes. Ajudou a organizar quase uma dezena de Simpósios do Sinarj, além de participar da equipe de retaguarda de outros tantos eventos. Foi também coautora de dois livros: Astrologia e Saúde (2001) e O Timeu de Platão e a Astrologia (2004), ambos da Editora Espaço do Céu. Mesmo assim, jamais foi palestrante nos eventos em que trabalhou. Abdicava do palco, preferindo dar suporte aos colegas.
Por ironia, o temporal transformou a discreta e acolhedora Lucia na manchete do dia em todos os sites de notícias e redes de TV. A tragédia de avó e neta comoveu a cidade, mas Lúcia estava longe do estereótipo da vovó caseira. Na verdade, estava em plena atividade, e sua próxima aventura seria a organização de um evento internacional.
A embaixadora informal
Lucia Xavier era formada em Alimentação Natural pela UNESA e astróloga com especialização em Astrologia aplicada à Saúde. Participou da diretoria do SINARJ nas duas gestões de Celisa Beranger, de 2001 a 2005 e, mais recentemente, de 2015 a 2017.
No período 2018-2019, mesmo sem cargo formal, continuou a participar de todas as reuniões, como integrante de comissões especializadas. Também foi diretora da CNA no período de implantação da entidade, em 2005-2006, e integrante da diretoria seguinte, presidida por Maurício Bernis (2007-2008).
A simpatia pessoal transformou Lucia Xavier numa embaixadora informal da Astrologia carioca. Em 2006 fez parte da comitiva brasileira que inaugurou um período de aproximação e colaboração com astrólogos argentinos. Naquele ano, o fundador do Centro Astrológico de Salta, Mario Raskovsky, promoveu um evento pioneiro na capital do noroeste argentino. Lucia, que já tinha vínculos com o país vizinho, estava lá, como também esteve no congresso Gente de Astrología, promovido por Silvia Ceres em Buenos Aires.
Da amizade com Celisa Beranger e o astrólogo portenho Adolfo Gerez surgiu o projeto de realizar no Rio de Janeiro uma das edições de Astrologia Global, um evento com vocação globetrotter nascido na Argentina que já deu frutos em Santiago do Chile, Cidade do México e Bogotá.
Lucia participou de inúmeros congressos internacionais, entre eles o I Simpósio Luso-Brasileiro de Astrologia, que a ASPAS promoveu em 2015. Naquela ocasião, uma multidão de astrólogos brasileiros invadiu Lisboa para apresentar trabalhos. Lucia também esteve lá – não como palestrante, mas novamente costurando contatos e cimentando amizades.
Nascida com o Sol em Áries em quadratura com Urano e Júpiter, era uma pessoa alegre e agregadora. Fácil entender por que o drama que viveu com a neta manteve a comunidade astrológica em suspense durante toda a manhã de 9 de abril.
Para os cinegrafistas que registraram cada detalhe do funeral para os noticiários vespertinos, avó e neta eram apenas as vítimas de uma tragédia da natureza – ou da incúria administrativa de um estado falido. Entre os muitos amigos presentes, as referências eram outras. E o adjetivo que mais se ouvia aqui e ali, definindo a marca que Lucia Xavier deixará na Astrologia carioca, era simplesmente: luminosa.
Como comentara na véspera Denise de Almeida de Carvalho, atual presidente do SINARJ:
Passou ainda agora no RJTV. A delegada falando que queria registrar que se impressionou com o tamanho da mobilização dos amigos e da família. Que como é difícil ver esse enorme movimento de amor. A cara da Lucia isso.
Exatamente. A cara da Lucia.